CASAMENTO ESPIRITUAL DE CUIDADORES


Lady, Monique, Danilo, Bob, Adriana, Leleco, Cassio, Kevin, Gustavo e Airton - grupo de teatro Atuação

Na noite do último sábado a Vila Cruzeiro, na zona sul de Porto Alegre, estava com uma vibração diferente. Era a expectativa... O show que comemorou os 25 anos do programa Criança Esperança na Rede Globo, mostraria o quanto a presença da Central Única das Favelas, a CUFA-RS, mudou aquela comunidade.

Na tarde daquele sábado eu estive na sede da CUFA para uma conversa com o grupo de teatro Tumulto e ao perguntar sobre o começo de tudo, Gustavo Ramos Gomes nos definiu assim: era um tumulto mesmo!

Todos riram, mas ao fazer um retrospecto do trabalho do grupo, que já tem quatro anos, todos viram o quando evoluíram. Eu mesma acompanho essa galerinha há cerca de dois anos, quando retratei aqui no blog a apresentação da peça A Vaquinha Mococa, criação de Ivanete Pereira, coordenadora institucional do grupo.

A idéia era introduzir o teatro para aquelas crianças utilizando técnicas de Augusto Boal, criador do Teatro do Oprimido, que une teatro à ação social. Lady Nete, como Ivanete é conhecida, tinha como missão juntar as técnicas de Boal ao chamado “drama” que fazia na infância na Bahia. E mais que isso, despertar nessas crianças a paixão por algo que pudesse distância-las da violência e das drogas, tão presentes na comunidade onde vivem.

No meu primeiro contato com o grupo o trabalho era mais emoção do que técnica e chegou o momento em que essa turma toda precisava de um conhecimento teatral profissional. Foi quando Bob Bahlis entrou na história. O diretor de teatro trouxe então para o Tumulto técnicas de atuação, concentração, texto. “Vi que eles tinham a vontade de fazer e de aprender, então comecei a estruturar isso”, disse. Lady o classifica como sua segurança naquele momento, e Bob diz que apenas explorou o talento natural e a essência comunicativa de Ivanete em prol do grupo. Foi um “casamento espiritual de cuidadores”, segundo Lady.



Uma das crianças, Monique Machado Castro (foto acima), foi estrela do comercial do Criança Esperança desse ano. Tímida, Monique representou o Rio Grande do Sul, ao lado de Miguel Falabela e diz que hoje o grupo é sua segunda família. “Aqui eu sou diferente, em casa sou mais quieta, mais fechada...”, contou ela.
O diretor geral da CUFA, Manoel Soares conta que hoje se criou uma outra idéia a partir da proposta que se aprende. O AtuAção não tem a intenção de produzir bons profissionais da arte. “Não tenho o objetivo de construir bons atores, mas construir gente. Gente que vem sendo desconstruída”, esclarece ele.


Cristiano Clavelin ministrando aulas de inglês

Além de teatro, a CUFA promove oficinas de cidadania, aulas de inglês com o professor Cristiano Clavelin entra outras atividades. Na minha opinião, o que a CUFA mais distribui é amor. A constituição de família é muito clara ali. Lady é a mãe amorosa, que dá bronca quando necessário e colo sempre que lhe é pedido. Manoel é o irmão mais velho que pega no pé sempre que preciso para que as coisas não saiam da linha, e no grupo, cada um tem consciência da sua importância para o outro e para o grupo como um todo. Uns cuidam dos outros com uma certeza: “daqui vai sair algo de bom para a vida deles”, como disse a mãe dessa família, que ressalta também que hoje o projeto não agrega apenas as crianças, mas os pais, uma assistente social e psicólogas que apoiam e organizam com Lady todo o trabalho.
Na conclusão do projeto, os alunos da Vila Cruzeiro produzirão quatro filmes que serão apresentados a UNESCO no final do ano. Vai ser mais uma etapa na vida vitoriosa desse grupo... grupo que Gustavo um dia classificou como um tumulto e hoje diz que lhe dá orgulho, pois sabe que todos que estão ali hoje, estão dispostos a encarar o que tiver que ser feito. Alguém duvida que serão um sucesso?!



Por: Fernanda Rodrigues
Fonte: http://emnegritto.zip.net/index.html

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